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Facção Têxtil

Quando o jovem príncipe e guerreiro Afonso Henriques, no Condado Portucalense, decide mudar e tudo e criar o Reino de Portugal, tendo o Castelo de Guimarães como sede política e militar, no Séc. 12, ele arrasta consigo a cultura céltica e lusitana, e logo deixa o castelo da fundação para se dirigir a Conimbriga, o berço lusitano de alta cultura e política de confluências romano-árabes –, na verdade, a sede apropriada para expandir Portugal com a alma lusitana e a cultura muçulmana.

O ser-estar Portugal transporta em sua essência alma lusitana, ela mesma prenha da cultura árabe, logo, Portugal nasce com a gastronomia, a cerâmica e o saber têxtil (e suas facções de fiação/tecelagem/tinturaria tribais). E é este ser-estar multicultural que atravessa o mar atlântico na era caraveleira do Séc. 16 para desembarcar no Novo Mundo as tecnologias luso-castelhanas de cerâmica e têxteis, aqui, a incluir o modo ´facção´ de operar com uma roca e um tear em cada casa de colono.

Entre os Sécs 16 e 19 não existe família colonial e luso-brasileira (a contar já com a gente africana de grande labor e colorido têxtil) que não exerça o ofício de fiar e tecer em domicílio. Não, não é uma indústria estruturada, mas é uma linha de produção tão eficiente como a do artesanato ibérico.

Em meados do Séc. 19, o Sítio Carioba, nos certõens y mattos de Santa Bárbara D´Oeste transforma-se em foco algodoeiro e canavieiro […], os políticos e militares ´confederados´ (emigrando dos EUA) encontram aqui a nova alma americana, e é quando a região recebe os trilhos da ´maria-fumaça´ e a Fábrica de Tecidos Carioba inclui a Villa de Americanos no contexto têxtil, primeiro com a Família Souza Queiroz, e após a falência, com o germânico Franz Muller, que lhe dá estrutura de gerenciamento industrial-urbano, de tal maneira que a indústria é um ganho social ao levar a cada domicílio um pouco da sua linha de produção, no que reinventa o conceito facção da tribo têxtil.

Senhoras e Senhores, isto é a Villa de Americanos, o polo têxtil do Estado de São Paulo e exemplo cívico da migração de povos entre as Américas.

 

 

BARCELLOS, João

Palestra & Pesquisas: Americana, Santa Bárbara D´Oeste

e Campinas, 1992.

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João Barcellos

Escritor (literatura ficcional, historiográfica, tecnológica), Pesquisador de História e Conferencista, é português (1954) com livros publicados em diversos países, e tem o Brasil como sede enquanto "fazedor de conteúdos". Editor e cofundador das revistas Impressão & Cores, Jornal Corpus, e da agência Koty Marketing. É cofundador do Grupo de Debates Noética (Brasil / América Latina) e membro-representante do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (Portugal), coordena as coletâneas Palavras Essenciais e Debates Paralelos, com 16 e 17 volumes.