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Descarbonização

DESCARBONIZAÇÃO

Energia Limpa & Compartilhada

E neste chão que piso,

que foi meu berço, que é o meu caminho

e será tumba minha… Ah, eu sou isto,

um grão cósmico no infinito!

Quero um dia, nesta mortalha d´estrelas,

ver em mim, não a morte, mas a vida

no infinito!

Johanne Liffey – médica (em campanha solidária)

Oriente Médio, 2019

Uns tempos atrás, no final do Séc. 20 e passagem para o 21, não era fácil supor que a carga de resíduos urbano-industriais seria o leitmotiv para uma demanda de tecnologias adequadas à sua descarbonização. Estava em causa o bem-estar da Humanidade e o equilíbrio da própria Terra.

A geração de energia e combustíveis por massa fóssil, que gera em si elevados níveis de carbono, começou a ser substituída por biomassa: a sociedade da petro-coisa passou a ser pensada como passado físico-químico e, em sua vez, surgia a sociedade da energia limpa no trato dos resíduos industriais.

Não…, Senhoras e Senhores, ainda não estamos a salvo, apenas iniciamos a caminhada – a saber:

Projetamos tecnologias ambientais;
Projetamos estratégias para combater a ignorância através de mensagens técnico-científicas para conscientizar as pessoas de que a Terra é a nossa Casa e a nossa Tumba;
As tecnologias ambientais já nos ajudam a diminuir o buraco criado acima das nossas almas pelas emissões de carbono, mas, é na descarbonização dos resíduos da nossa era industrial que está a solução para se construir uma sociedade alimentada por energia limpa e renovável.

E aqui chegamos, porque teimamos em pensar por nós mesmos e não no ´achismo político e empresarial´ de quem sempre ignorou a Terra que abriga e alimenta a Humanidade.

Sim…., Senhoras e Senhoras, eis-nos aqui para saborearmos o bom êxito dos esforços acadêmicos e empresariais na busca (não no ´achismo´) de tecnologias ambientais ecologicamente projetadas e construídas por uma engenharia de resultados em humanismo crítico!

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O raro, mesmo, é olharmos mais além de nós e percebermos em mais alguém o esforço para um humanismo crítico de viés científico – i.e., aplicarmos adequadamente as tecnologias que criamos para a produção de alimentos e objetos, e, então, elaborar com a comunidade que nos é família e trabalho um modo de transformar os resíduos da nossa vivência doméstica e industrial em matéria-prima para geração de energia.

E quando percebemos que está em nossas mãos e consciência a solução ecológica, paramos para pensar… Isto é sustentabilidade social. Isto é sustentabilidade econômica.

Como a médica Johanne Liffey nos lembra em seu poema, assim como Zeca Afonso o faz em sua canção ´traz outro amigo também´, eis-nos na demanda de uma vida que o é infinita pelo que nela construímos, familiar e comunitariamente. Já o poeta e jornalista J. C. Macedo dizia, em panflo (contra a energia nuclear em Portugal, 1975, e junto de Zeca e outros cantores), que “[…] o cosmo não nos gerou para acharmos seja o que for, mas para construirmos vivência no âmbito da vida que somos e seremos, sempre, como aquele ´grão cósmico no infinito´, que a filha Johanne utilizou, muitos anos depois, em seu poema.

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Sabemos que a natureza se regenera com os próprios resíduos florestais e hídricos, entre a chuva e o calor, o sol e a lua, logo, quem somos para negarmos a nós a aplicação dos resíduos que produzimos dia a dia?

A solução telúrica-cósmica para o planeta que nos guarda e nos dá possibilidade de vida, é a mesma que temos de observar e, em relação a nós – a humanidade…, resgatar essa solução enquanto “estratégia de sobrevivência com qualidade afectiva e tecnológica, pois, só a tratar a Terra amorosamente daremos comodidade ao nosso quotidiano cósmico” [Macedo, idem].

Pensar em humanidade e terra é construir sustentabilidade, é evitar a sentença “onde não há pão,/ não há sossego”, como canta(va) Zeca em outra canção.

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E então, pensar e forma[ta]r estratégias na esfera bio-geo-química, é perceber que “…na natureza intata não há poluição, porque nada se perde, tudo circula infinitamente”, como diz[ia] o cientista-ecólogo José Lutzenberger.

E nós, nós… Senhoras e Senhores, em todas as nossas eras civilizatórias produzimos desperdício residual, raramente aplicado como recurso para embasar outras energias. Quando queimamos partes da floresta para abrir espaço à agropecuária, ou despejamos mercúrio na lavagem de riquezas minerais rios adentro, ou simplesmente destruímos olhos d´água para erguer indústrias e vilas, estamos nós…, Senhoras e Senhores, a destruir a nossa Casa e o futuro que teríamos em nossas mãos se, lá atrás, tivéssemos pensado conscientemente em nós e na geração que virá.

Isto é sustentabilidade. Isto é genuíno pensamento em humanismo crítico.

A lembrar o seu livro “Fim do Futuro? / Manifesto Ecológico Brasileiro”, de 1976, Lutzenberger escreveu num quadro negro, quando preparava a Eco92, para o Rio de Janeiro: “O vento pode existir sem o catavento, o inverso é absurdo”. Eis o ´busílis´ da questão. Temos de aprender com a natureza cósmica a confeccionar a nossa mortalha por uma vivência sustentável, porque a morte virá, e é pela nova geração que nos obrigamos a construir o futuro que o manifesto lutzenbergeriano coloca em nossas consciências, a par das lições geossociais que recebemos de Aziz Ab´Sáber e, hoje, da nova geração representada pela australiana Elissa Sursara, entre outras personagens do ciclo ecológico.

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E é verdade: se ainda desperdiçamos toneladas de resíduos por dia em nossa sociedade urbano-industrial, também iniciamos o caminho para transformar os resíduos em matéria-prima gerador de gás e de eletricidade.

Eis-nos diante da descarbonização…

Descarbonização?! Ora, é pegar o resíduo doméstico e industrial, separá-lo por material diferenciado, e então, beneficiá-lo com a tecnologia ambiental dita Recuperação Térmica Avançada / RTA, que, por ex., nos oferece energia elétrica a partir das comunidades e das indústrias que processam os seus resíduos, sendo uma energia introduzia na linha de abastecimento das concessionárias institucionais e privadas, logo, a descarbonização é um negócio social e economicamente sustentável.

Descarbonizar é eliminar o CO2 (o carbono) que está em tudo o que nos rodeia e, principalmente, no que produzimos. É o que sabemos. Logo, podemos agora obter, e já obtemos, um custo-benefício ao tratar o lixo que vira luxo e base de energia limpa para sustentar o que somos diante da geração que já nos espreita e exige responsabilidade no trato telúrico-cósmico…, muito particularmente nos ramos agropecuário e têxtil.

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A reciclagem de resíduos estruturalmente assente, entre os poderes público e privado, permite limitar a geração de carbono, e mesmo capturá-lo nas chaminés das grandes indústrias, para reduzir o efeito estufa. Esta tecnologia ambiental está em curso e é o Brasil um dos principais polos para geração de Energia Limpa.

Isto…, Senhoras e Senhores, é conscientizar ecologicamente a sociedade que somos para o futuro que teremos de gerar hoje!

25 d´Abril, 2022

Sam Paolo dos Campi de Piratininga | Ilha do Brasil

BARCELLOS, João – autor de, entre outros livros, Sustentabilidade (entre Gráficos & Têxteis). Ediç com selos Grupo de Debates Noética (Europa, Brasil e América Latina), Centro de Estudos do Humanismo Crítico (cehc, Guimarães-Portugal), Edit Edicon (Brasil), 2019 [2ª Ediç, ampliada, 2022].

Obs.: JB, editor das revistas jCORPUS e IMPRESSÃO & CORES (I&C), lusofonia e América do Sul. É membro do CEHC e fundador do Grupo de Debates Noética.

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João Barcellos

Escritor (literatura ficcional, historiográfica, tecnológica), Pesquisador de História e Conferencista, é português (1954) com livros publicados em diversos países, e tem o Brasil como sede enquanto "fazedor de conteúdos". Editor e cofundador das revistas Impressão & Cores, Jornal Corpus, e da agência Koty Marketing. É cofundador do Grupo de Debates Noética (Brasil / América Latina) e membro-representante do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (Portugal), coordena as coletâneas Palavras Essenciais e Debates Paralelos, com 16 e 17 volumes.